Podemos dizer que estamos bastante adaptados a nossa vida por aqui, Fábio nasceu no lugar errado, segundo ele quanto mais tempo ele mora em USA mas ele rejeita a idéia de voltar para o Brasil. Eu adoro morar aqui mais confesso que se a gente tivesse que ir morar no Brasil agora eu não ia achar ruim. Quando a gente tem, a gente acaba não dando valor, mas quando a gente perde ai é que a gente sente... Posso dizer que temos poucos amigos aqui em USA, mas são amigos que gostamos muito.
No começo não podia ver um Brasileiro que já dava meu telefone, convidava para ir na minha casa. Hoje já estou mais seletiva e descobri que poucas pessoas estão abertas a novas amizades. Sinto muita falta dos meus amigos e principalmente da minha família, quando eu vejo uma família grande por aqui me dá uma saudade... A oportunidade que temos de estar sempre indo para o Brasil e sempre recebendo nossos familiares é muito boa. Aliais é ótimo, não sei como estaria sendo minha avaliação desses dois anos se isso não fosse possível. Sinto que essas pessoas mesmo longe me fortalecem e poder ter eles perto de vez em quanto me motiva a viver feliz por aqui. Eu me sinto amada e muito querida e isso me mostra quem eu sou e da onde eu vim. Para Julia nem se fala poder ter os primos e os avós por perto é maravilhoso. Todas as lembranças que tenho quando criança eu estava acompanhada dos meus pais, das minhas tias, primos ou avós e proporcionar isso a Julia é importante. Outra coisa importante é mostrar para ela de onde ela veio e fazer ela viver suas origens e conhecer sua cultura, agradeço muito a Deus por isso.
Alem da minha família e amigos uma coisa que sinto muita falta por aqui é de uma empregada... Apesar de aqui eu ter maquina de lavar prato, vacumm, maquina de lavar e secar roupa, steamer e outros aparatos eletrônicos que o primeiro mundo nos oferece eu sinceramente trocaria tudo isso por uma boa empregada. Chegar em casa depois de um dia cansativo e ver a casa toda para arrumar me dá uma dor no coração. Mas eu tenho trabalhado bem isso e Fabio tem me ajudado bastante, afinal de contas outras coisas podem até mudar mas isso com certeza não vai. Minha próxima aquisição vai ser um vacumm automático (um robô que limpa a casa sozinho e volta para a base depois que termina sua tarefa).
Durante esses dois anos aconteceu um momento muito triste em nossas vidas que foi a perda da nossa bebê Sarah que apesar de não ter nascido com vida fez parte da nossa família. Com Sarah eu aprendi que se a gente tem Deus no coração, ele vai estar sempre do nosso lado, mesmo que as coisas não aconteçam como a gente deseja. Sarah me mostrou que ele sempre escuta as orações sinceras e em momentos de muita dor eu pude sentir a presença dele ali comigo. Ela me ensinou também que não devemos reclamar daquilo que desejamos tanto (me lembro que no começo da gravidez, só fazia reclamar de enjôos realmente insuportáveis). Foi um momento de muita dor para nós, mas mesmo assim não queremos esquecê-lo e temos a certeza de que um dia vamos poder estar juntos da nossa Sarah.
Logo depois dessa dor veio uma grande alegria o batismo de Fábio na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias. Posso dizer que cumpri umas das minhas missões aqui na terra, que foi de ter mostrado o caminho da igreja de cristo a meu marido e isso me deixa muito orgulhosa de mim porque sei que agora temos idéias e convicções exatamente iguais e conhecemos por testemunho a verdade do evangelho. Desde pequena eu sempre admirei a família da minha tia Andrea que tem quatro filhos e que tanto ela quanto o marido são bastante religiosos e criaram os filhos em cima de doutrinas rígidas (para aqueles que não entendiam de religião). Sempre quis ter uma família dentro desses padrões e com o batismo de Fábio esse meu sonho de menina virou realidade. O mundo hoje anda tão perdido e ter a oportunidade de criar nossa filha com os verdadeiros princípios do evangelho não tem preço.
Antes de vir para os USA tinha uma vida muito corrida e me dividia entre ser mãe, esposa, dona de casa e profissional. Não era um trabalhinho qualquer não, com uma rotina, que podia falar mal do chefe quando ele fizesse algo que eu não gostasse, com horário certo de voltar para casa... Trabalhar como supervisora na C&A não foi fácil (mas confesso que hoje sinto muita falta). O fato de eu não ter tempo para minha filha foi um dos motivos que me fez apoiar meu marido em vir estudar aqui nos USA. Mesmo naqueles dias em que vc esta de mal humor eu tinha que chegar na loja com um sorriso de canto a canto da boca, isso para poder motivar a equipe, como eu ia falar mal do chefe se eu era o chefe, trabalhar 8 horas por dia, nem pensar, tinha que dar exemplo. Bom essas são as partes ruins da história, agora vem tudo que eu sinto falta: Todos os dias eu aprendia muito mais do que ensinava, ter uma visão gerencial lhe deixa sempre pensar como dono do negócio, trabalhar com pessoas jovens que tem garra e muita vontade de aprender e subir na vida, incentivar as pessoas a se capacitar para um dia poder estar no seu lugar, falar em público (algo que até hoje é uma dificuldade para mim, mas antes da C&A era impossível), vencer barreiras (muitas vezes achava que não ia dar conta do recado, mas no final tudo acabava bem), Ser exemplo para os outros. Sempre digo que 90% do que aprendi na área administrativa não foi na faculdade e sim na C&A. Hoje sendo uma dona de casa Full time percebo que nem sempre quantidade é qualidade e assim que meu marido tiver acabado os estudos dele aqui eu vou procurar fazer um MBA para poder fazer aquilo que eu gosto. E enquanto a minha filha tenho certeza de que o tempo que ela vai ter comigo quando eu não estiver trabalhando vai ser um tempo muito precioso onde eu vou me dedicar muito a ela. Acho até que tem mulheres que nasceram para ser mãe e cuidar dos filhos sendo que eu descobri aqui nos USA que eu quero mais que isso.
Vir para cá, ficar em casa cuidando de Julia, voltar para a igreja, estudar inglês, dar apoio ao meu marido em quanto ele se realiza profissionalmente e ter mais filhos eram os meus principais objetivos no começo dessa nosso jornada. Hoje com dois anos de USA, alguns pensamentos mudaram... Definitivamente não suporto o frio e preciso aprender a lidar melhor com o inverno. Hoje não penso mais em só ficar em casa apoiando meu marido e cuidando da minha filha, quero mais que isso, na verdade quero isso e quero também me realizar profissionalmente. Sinceramente não sei se quero ter outro filho, na verdade quero muito, mas depois do que me aconteceu aqui fica muito difícil confiar em engravidar sabendo que eu tenho que ter um cuidado especial na gravidez.
O que mais importa é estarmos juntos, felizes, com saúde e ver nossa filha se desenvolvendo num lugar onde nos proporciona tantas coisas boas e descobertas que não teríamos se estivéssemos no Brasil, como por exemplo a oportunidade de estar conhecendo a cultura desse país e aprendendo uma língua que vai ser tão importante para o futuro dela. Hoje mas do que nunca sinto minha família mais sólida. Eu e meu marido temos muita cumplicidade e sinto que nos amamos mais e mais a cada dia. Não ter que andar com medo de assaltos, seqüestro relâmpago, não se preocupar com transito, não saber o que é buracos nas ruas, saber que as leis funcionam e são cumpridas, não conviver com tanta desigualdade social, não ter muro na nossa casa, poder andar de bicicleta na calçada, ter parques maravilhosos bem pertinho da nossa casa são uns dos motivos que nos deixa tão felizes nesse lugar que nos acolheu tão bem.
