Se alguém me perguntasse sobre alguma história interessante para escrever um livro com certeza eu diria que era a história de dona Maria Luiza Castelo Branco.
Foi criada no bairro da Madalena, só foi registrada pelo pai depois de adulta. Viveu sua adolescência de uma forma bem precoce, onde usava roupas da moda (que para época era um afronto), não perdia um baile, adorava estar junto dos soldados estrangeiros que vieram para o Brasil na segunda guerra mundial. Apaixonou-se por um americano na época da guerra, mas não deu certo. Apaixonou-se pelo meu avô e ficaram juntos. Seu primeiro filho ela perdeu na sala de parto porque o medico usou um fórceps para retirar a criança e perfurou seu crânio. Era um menino pesando mais de 5 kg e até hoje ela se recorda desse fato guardando uma única foto do seu filho que não teve a chance de criar. Sua melhor amiga, conselheira e companheira para todas as horas era sua mãe e foi ela que ajudou a criar suas cinco filhas. Ela nunca teve uma psicologia tradicional para criar suas filhas, muito pelo contrario algumas coisas que vovó fazia como mãe os psicólogos de hoje em dia iriam condenar. O que é interessante é que as cinco filhas sempre deram muito orgulho para ela e todas elas lembram de sua infância e adolescência com boas recordações. Meu avô era totalmente ausente na educação das filhas, então ela acabava tendo que ser pai e mãe ao mesmo tempo. Alem da participação da minha bisavó Matilde, vovó também contava com Neusa para cuidar da casa. Neusinha passou mais de 25 anos trabalhando com vovó só saiu de lá aposentada e até hoje são amigas. Em fim essa é apenas uma parte da sua vida que não acaba por ai...
O seu bisavô era Conde em Portugal e com o empenho de suas filhas foi reconhecida pela família do seu pai, o que deu muita alegria. Alem do seu reconhecimento, ser registrada com o nome de seu pai lhe deu a chance para que ela pudesse se tornar uma cidadã Portuguesa, não só a ela como a suas filhas e todos a geração futura.
Vovó é uma mulher hilária, mesmo em situações difíceis ela consegue fazer alguém rir, estar com ela é alegria garantida. Ela viveu uma vida muito intensa e conversar com ela sobre o passado é uma verdadeira viagem ao tempo. São historias divertidas e algumas nos fazem pensar o quanto ela realmente era uma mulher moderna para a época. Passar no bairro da Madalena com ela é reviver cada lugar que não existe mais, nos fazendo imaginar como devia ser boa aquela época...
Hoje vovó esta com 80 anos muito bem vividos e com muita história pra contar. Tem uma saúde melhor do que muitas mulheres de 50 sendo que infelizmente ela se encontra com depressão desde Abril deste ano. Aquela mulher de riso fácil que não perdia uma oportunidade de estar na rua, que adorava conversar com todo mundo no momento se encontra triste, não quer ver ninguém, não quer sair de casa... Tenho fé de que não vai ser essa bendita depressão que vai derrubar minha vózinha, ela ainda tem muita coisa pra viver...
